Por Carolina Vaz
A Rural recebeu, ontem (05), a palestra “Memórias dos Navios Negreiros nas Literaturas Latino-Americanas”, ministrada por Victorien Lavou Zoungbo, da Université de Perpignan, na França. A palestra aconteceu no Instituto de Ciências Humanas e Sociais, em Seropédica, e foi organizada pelo grupo História Social – Trabalho, Cultura e Cidadania no Sul Global. Victorien Zoungbo é coordenador de um grupo de pesquisa sobre negros na América Latina, o Groupe de Recherches sur les Noirs d'Amérique Latine (GRENAL-CRILAUP), e PhD em literatura latino-americana.
O principal ponto da palestra de Zoungbo foi trazer à reflexão a ausência de detalhes sobre os navios negreiros em obras literárias, escolares e também em filmes na América Latina e Central. Segundo ele, fala-se muito, nas escolas e nas obras que tratam do período da escravidão na América Latina, sobre o sistema de trabalho nas colônias, nas plantações, porém pouco se fala sobre as condições em que viviam os negros nos barcos negreiros, durante o tráfico de escravo. Não somente as condições em que viviam, mas também o fato de que muitos eram “descartados” no mar, não chegando a seu destino.
Victorien Zoungbo trouxe questões do estudo que realiza na França |
O pesquisador também acentuou a diferença, na ideologia dominante, segundo ele, entre as caravelas e os navios negreiros. Eram embarcações de um mesmo momento histórico e econômico, e embora também a caravela fizesse o transporte de produtos comerciais e pessoas, o navio negreiro, particularmente, é visto como algo negativo. Metaforicamente, segundo Zoungbo, a caravela, que atravessava os oceanos sempre representada com uma cruz, em suposta missão divina e civilizatória, seria um símbolo da evolução e o navio negreiro, da destruição.
O pesquisador acredita que não haja mais do que 20 filmes em circulação sobre navios negreiros, e também são poucas as literaturas; destacam-se as caribenhas, haitianas e brasileiras porque acredita-se que foram os países onde a presença de africanos é exageradamente visível. Já em outros países da América do Sul, como Peru, México e Argentina, costuma-se argumentar que estes países não receberam muitos escravos negros; o que não é verdade. A teoria do professor é que as literaturas, em um discurso hegemônico, tentam omitir que houve escravidão em seus países.
Ao fim da fala de Zougbo, os participantes puderam colaborar com algumas considerações relativas ao tema. A existência de escravos em outras funções nos navios, como marinheiros, intérpretes e colonos (no caso dos navios com destino à América do Norte), foi abordada. Os estudantes presentes, alguns já professores de História, questionaram se a tese se trata de uma negação da escravidão, e expuseram experiências de sala de aula sobre o tema. A professora Fabiane Popinigis, do grupo de pesquisa que trouxe a palestra, acrescentou o questionamento de o que aconteceu com os ex-escravos logo após a abolição da escravidão, para onde foram e o que fizeram.
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