Feira Grátis da Gratidão conquista
espaço na UFRRJ
Por Phelype Gonçalves
A alegria de um sorriso ou um afago;
um abraço apertado, independente do colo; um selinho num desconhecido ou uma música
tocada apenas para propagar talento, positividade e afeto. Tudo de graça; de
todos para todos, sem distinção de raça, sexo ou religião.
A Feira Grátis da Gratidão é uma
proposta parecida com as “Gratiferias” — feiras realizadas em Buenos Aires, na
Argentina, que estimulam as pessoas a fazerem doações de quaisquer materiais, e
levar, caso queiram, algum outro item para si próprio —, porém, além de
incorporar esse conceito, não se limita a objetos ou somente coisas materiais.
Trazida para o Rio de Janeiro por Francisco Ottani, massoterapeuta, após uma
viagem à Argentina, a Feira grátis da Gratidão é um evento que recebe todos os
tipos de público, de idades e pensamentos diversos. O objetivo é fazer
diferentes pessoas interagirem entre si, incitar o desapego material e criar a
percepção de verdadeira utilidade de tudo o que há no mundo.
Frutos
da árvore Amizade
Matheus Sousa, aluno do primeiro
período de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), amigo de Ottani, é um apaixonado pela feira.
Acostumado com a rotina da interação e
do movimento realizado em diversos lugares no Estado do Rio, é o responsável
por trazer a ideia para a UFRRJ.
— Sou maníaco por essa feira. Todo mês
eu faço uma, pelo menos — diz o estudante.
A primeira vez que ocorreu no Estado
foi no Parque Guinle, em Laranjeiras, e recebeu cerca de 10 pessoas. Os
encontros são sempre marcados pela internet, no Facebook. Nessa estreia,
compareceram muito menos indivíduos do que os confirmados no evento na rede
social.
— Uma galera levou uns cacarecos e outra
menina levou muita roupa. Foi engraçado, pois não tínhamos cangas para
colocarmos as coisas e as pessoas passavam e achavam que era tudo para ser
vendido, e não, era pra eles pegarem se quiserem — argumenta Matheus, sorrindo.
Depois da experiência primitiva, o
movimento foi ganhando adeptos e colhendo pensamentos com as mesmas ideologias
da feira. De lá pra cá já são mais de 40 edições realizadas por vários lugares
e está sempre em expansão, como conta o calouro de Ciências Sociais.
— Já ocorreram muitas feiras. Já vimos
o movimento chegar a Belo Horizonte, São Paulo e, uma galera de Santa Catarina
demonstrou interesse recentemente. Eu sempre fazia em vários lugares e muitas
aconteciam em Volta Redonda, mas, como fui aprovado pra Rural, eu fiquei com um
tempo menor pra me dedicar a elas, então resolvi trazer a ideia pra cá — confessou
Matheus.
De acordo com o universitário,
geralmente confundem a Feira Grátis da Gratidão com a Feira de Troca, e não é.
A primeira é dar por dar, sem querer nada em troca; é livre. Esse é o
propósito, e não há líderes. Todos podem aproveitar a ideia e realizar o evento
em qualquer lugar.
Desmitificando
a primeira vez
Com o maior horário já realizado —
oito horas —, a UFRRJ cedeu espaço à Feira Grátis da Gratidão e conheceu todos
os benefícios que ele pode trazer, no último dia 7 de agosto.
Para o responsável por trazer a ideia
para a comunidade ruralina, Matheus Sousa, o evento tinha que ser harmônico
para os presentes.
— Quis que as pessoas entendessem a
causa, que se integrassem, se conhecessem, se relacionassem, pois foi um
momento que todos estiveram voltados para os mesmos propósitos — revelou o
estudante que pretendia fazer as pessoas enxergarem o que é ou não necessário
pra elas. — Não tem porque alguém ter dois livros repetidos, como aconteceu
comigo. Era ver e perceber o que é ou não essencial, e só — finalizou.
De acordo com Alexandre Martins
Vianna, professor do Departamento de História da UFRRJ, que já tinha ouvido
falar de outras edições fora da Rural, a feira é muito positiva e é algo
totalmente novo dentro do campus.
— É minha primeira experiência em uma.
Recomendo e acho que poderia, inclusive, ser algo que saísse de dentro da
Instituição para fora, paro o município de Seropédica. Além disso, a iniciativa
é de um aluno recém-ingresso na UFRRJ. É um movimento que nos faz perceber a
importância das redes sociais como algo positivo, no sentido de unificar e
propagar boas ideias — disse o docente ao saber que a organização da feira
sempre é feita por eventos criados no Facebook.
Já para Anselmo Júnior, estudante do
terceiro período de Geologia da Rural, foi uma ótima oportunidade de doar o que
lhe ocupava espaço no quarto.
— o antigo morador do meu quarto saiu
do alojamento e deixou um jogo de panelas. Eu juntei tudo e coloquei na feira.
E o mais legal de tudo é que eu estava precisando justamente de um celular, e
consegui um aqui — revelou.
E para quem um dia participou de um
evento com um público bem pequeno, ficou contente ao saber de pessoas vindas de
outras localidades só para prestigiarem a Feira Grátis da Gratidão. Foi o caso
de Gabriela Cerqueira e Karla Camacho, estudantes do terceiro período de
Mecânica do Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia do Rio de janeiro
(IFRJ), que saíram de Volta Redonda para participar da primeira edição na
UFRRJ.
— Ficamos sabendo através das redes
sociais, também. Teve uma que aconteceu no Rio, mas não pudemos ir. Nessa deu
pra vir e curtir o clima. Aliás, esse sentido de desapego e a ideia de dar e
receber é o que mais nos atraiu — concordaram as universitárias.
Sobra
na Rede
Um ponto importante da Feira Grátis da
Gratidão é que nada se perde. Todos os materiais que sobram ou não interessam
para o público do local do evento, por algum motivo, são recolhidos e podem
seguir dois caminhos.
O primeiro é serem doados para
orfanatos e ONGs ou podem ser guardados para outras feiras. Já o segundo
caminho é aproveitá-los e colocá-los num grupo do Facebook chamado “Feira
Grátis da Gratidão”. Lá, os materiais podem encontrar novos donos. O grupo
serve, também, para doações de objetos maiores e até de móveis, por exemplo.
— Já vi doações de móveis de um
escritório inteiro e até de uma bateria de música. As pessoas postam o
conteúdo, outras manifestam interesse, rola uma conversa entre quem dá e quem
quer receber (eles mesmos negociam) e depois combinam onde se encontrarão para
a doação — explica Matheus Sousa, responsável pelo evento na UFRRJ, que reforça
o fato de tudo ser aproveitado, e de que a interação entre os indivíduos é a premissa
básica da Feira Grátis.