segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Valor máximo para preços abaixo de zero


Feira Grátis da Gratidão conquista espaço na UFRRJ


Por Phelype Gonçalves




A alegria de um sorriso ou um afago; um abraço apertado, independente do colo; um selinho num desconhecido ou uma música tocada apenas para propagar talento, positividade e afeto. Tudo de graça; de todos para todos, sem distinção de raça, sexo ou religião.


A Feira Grátis da Gratidão é uma proposta parecida com as “Gratiferias” — feiras realizadas em Buenos Aires, na Argentina, que estimulam as pessoas a fazerem doações de quaisquer materiais, e levar, caso queiram, algum outro item para si próprio —, porém, além de incorporar esse conceito, não se limita a objetos ou somente coisas materiais.


Trazida para o Rio de Janeiro por  Francisco Ottani, massoterapeuta, após uma viagem à Argentina, a Feira grátis da Gratidão é um evento que recebe todos os tipos de público, de idades e pensamentos diversos. O objetivo é fazer diferentes pessoas interagirem entre si, incitar o desapego material e criar a percepção de verdadeira utilidade de tudo o que há no mundo.


Frutos da árvore Amizade


Matheus Sousa, aluno do primeiro período de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), amigo de Ottani, é um apaixonado pela feira.


Acostumado com a rotina da interação e do movimento realizado em diversos lugares no Estado do Rio, é o responsável por trazer a ideia para a UFRRJ.


— Sou maníaco por essa feira. Todo mês eu faço uma, pelo menos — diz o estudante.


A primeira vez que ocorreu no Estado foi no Parque Guinle, em Laranjeiras, e recebeu cerca de 10 pessoas. Os encontros são sempre marcados pela internet, no Facebook. Nessa estreia, compareceram muito menos indivíduos do que os confirmados no evento na rede social.


— Uma galera levou uns cacarecos e outra menina levou muita roupa. Foi engraçado, pois não tínhamos cangas para colocarmos as coisas e as pessoas passavam e achavam que era tudo para ser vendido, e não, era pra eles pegarem se quiserem — argumenta Matheus, sorrindo.


Depois da experiência primitiva, o movimento foi ganhando adeptos e colhendo pensamentos com as mesmas ideologias da feira. De lá pra cá já são mais de 40 edições realizadas por vários lugares e está sempre em expansão, como conta o calouro de Ciências Sociais.


— Já ocorreram muitas feiras. Já vimos o movimento chegar a Belo Horizonte, São Paulo e, uma galera de Santa Catarina demonstrou interesse recentemente. Eu sempre fazia em vários lugares e muitas aconteciam em Volta Redonda, mas, como fui aprovado pra Rural, eu fiquei com um tempo menor pra me dedicar a elas, então resolvi trazer a ideia pra cá — confessou Matheus.


De acordo com o universitário, geralmente confundem a Feira Grátis da Gratidão com a Feira de Troca, e não é. A primeira é dar por dar, sem querer nada em troca; é livre. Esse é o propósito, e não há líderes. Todos podem aproveitar a ideia e realizar o evento em qualquer lugar.



Desmitificando a primeira vez


Com o maior horário já realizado — oito horas —, a UFRRJ cedeu espaço à Feira Grátis da Gratidão e conheceu todos os benefícios que ele pode trazer, no último dia 7 de agosto.


Para o responsável por trazer a ideia para a comunidade ruralina, Matheus Sousa, o evento tinha que ser harmônico para os presentes.


— Quis que as pessoas entendessem a causa, que se integrassem, se conhecessem, se relacionassem, pois foi um momento que todos estiveram voltados para os mesmos propósitos — revelou o estudante que pretendia fazer as pessoas enxergarem o que é ou não necessário pra elas. — Não tem porque alguém ter dois livros repetidos, como aconteceu comigo. Era ver e perceber o que é ou não essencial, e só — finalizou.


De acordo com Alexandre Martins Vianna, professor do Departamento de História da UFRRJ, que já tinha ouvido falar de outras edições fora da Rural, a feira é muito positiva e é algo totalmente novo dentro do campus.


— É minha primeira experiência em uma. Recomendo e acho que poderia, inclusive, ser algo que saísse de dentro da Instituição para fora, paro o município de Seropédica. Além disso, a iniciativa é de um aluno recém-ingresso na UFRRJ. É um movimento que nos faz perceber a importância das redes sociais como algo positivo, no sentido de unificar e propagar boas ideias — disse o docente ao saber que a organização da feira sempre é feita por eventos criados no Facebook.


Já para Anselmo Júnior, estudante do terceiro período de Geologia da Rural, foi uma ótima oportunidade de doar o que lhe ocupava espaço no quarto.


— o antigo morador do meu quarto saiu do alojamento e deixou um jogo de panelas. Eu juntei tudo e coloquei na feira. E o mais legal de tudo é que eu estava precisando justamente de um celular, e consegui um aqui — revelou.


E para quem um dia participou de um evento com um público bem pequeno, ficou contente ao saber de pessoas vindas de outras localidades só para prestigiarem a Feira Grátis da Gratidão. Foi o caso de Gabriela Cerqueira e Karla Camacho, estudantes do terceiro período de Mecânica do Instituto Federal de educação, Ciência e Tecnologia do Rio de janeiro (IFRJ), que saíram de Volta Redonda para participar da primeira edição na UFRRJ.


— Ficamos sabendo através das redes sociais, também. Teve uma que aconteceu no Rio, mas não pudemos ir. Nessa deu pra vir e curtir o clima. Aliás, esse sentido de desapego e a ideia de dar e receber é o que mais nos atraiu — concordaram as universitárias.


Sobra na Rede


Um ponto importante da Feira Grátis da Gratidão é que nada se perde. Todos os materiais que sobram ou não interessam para o público do local do evento, por algum motivo, são recolhidos e podem seguir dois caminhos.


O primeiro é serem doados para orfanatos e ONGs ou podem ser guardados para outras feiras. Já o segundo caminho é aproveitá-los e colocá-los num grupo do Facebook chamado “Feira Grátis da Gratidão”. Lá, os materiais podem encontrar novos donos. O grupo serve, também, para doações de objetos maiores e até de móveis, por exemplo.


— Já vi doações de móveis de um escritório inteiro e até de uma bateria de música. As pessoas postam o conteúdo, outras manifestam interesse, rola uma conversa entre quem dá e quem quer receber (eles mesmos negociam) e depois combinam onde se encontrarão para a doação — explica Matheus Sousa, responsável pelo evento na UFRRJ, que reforça o fato de tudo ser aproveitado, e de que a interação entre os indivíduos é a premissa básica da Feira Grátis.

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