segunda-feira, 26 de agosto de 2013

As memórias dos anos de chumbo

Por Lucas Lacerda


A mãe, Charo (Natalia Oreiro), o protagonista Juan/Ernesto (Teo Gutiérrez Moreno) e o pai, Horacio (Cesar Troncoso)

O cinema sobre as Ditaduras sempre remete a corredores frios, morte e torturas desumanas. Remete também, de acordo com “Infância Clandestina”, a uma vida de troca de identidade, exclusão do mundo social, e toda uma experiência atravessada pelo medo, pela insegurança e a tensão presentes nesse período.

Clarice, 25, ajuda a organizar a Mostra no Rio
No último dia 22, o filme chegou à UFRRJ em parceria do Grupo Imago e da segunda edição da Mostra Cinema Pela Verdade, representada pela aluna de Ciências Socias da UFRJ Clarice Green:

 - Acho muito legal o apoio pra vir até aqui, porque existe a vontade de levar a Mostra para o interior, mas é difícil. – afirmou Clarice, que também estuda Cinema na Escola de Cinema Darci Ribeiro.

A produção de 2012, de Benjamin Ávila, que conta uma versão romanceada de sua vivência durante o período 1976-79, reproduz esse cenário e as experiências, e chegou próximo de 200 mil espectadores na Argentina, e cerca de 30 mil no Brasil.

A Mostra Cinema Pela Verdade passou, em 2012, por 90 Universidades, e realizou 189 debates. Na Rural, os convidados para o bate papo foram Marcelo Müller, escritor do roteiro junto a Benjamin Ávila, e a professora da casa Lucília Lino Augusto de Paula, do DTPE/IE, pesquisadora do Movimento Estudantil na UFRRJ.

Após a exibição, o debate passou pelas violentas ações dos órgãos repressores na Argentina, do extermínio de grupos de resistência armada como os montoneros, do qual os pais do protagonista faziam parte. Müller apontou a soma de aproximadamente 500 crianças sequestradas durante a ditadura, e as cerca de 400 que ainda são procuradas.

Um ponto que despertou interesse foi o uso da animação para retratar as partes mais violentas da história, como a troca de tiros no início do filme, e o sequestro do menino Juan ao final:

 -  A comunicação emocional com o público sempre foi a intenção, aciona a memória emocional das pessoas. – declarou Müller, que destacou também a dificuldade de avaliar as questões da época com olhos atuais, e de contar a história através do filme sem julgar os personagens.

A profª. Lucília Augusto e o escritor Marcelo Müller: a repressão e o cinema
Lucília Augusto trouxe a interpretação da “individualidade e do coletivo”, sempre presentes na trama. De acordo com a professora, Juan é uma criança de espontaneidade e afetividade sempre tolhidas pela dupla identidade e pela família vivendo em função de um ideal, no meio de uma guerra.

Müller, também esclareceu os presentes sobre a introdução do carismático personagem “tio Beto”, que não fez parte da vida do diretor Benjamin Ávila:

  - Tio Beto nunca existiu, a convivência doméstica era pesada, complicada. E por querermos contar uma história de pessoas vivendo, se relacionando, era necessário ter um personagem para dar leveza. Tio Beto é o mentor que dá direcionamento ao herói. – contou o escritor, que também admitiu dificuldade no mercado nacional para espaço de filmes dessa natureza, que estão num meio-termo entre o artístico e o comercial.

A mestranda Maria Silva, presente na exibição e na conversa, expôs suas impressões sobre o filme, onde mencionou a questão de procurar pessoas ou saber do seu destino. De acordo com Maria, “trabalhar os rastros da memória é procurar os pedacinhos que a gente vai ter que catar.”


A Mostra Cinema Pela Verdade exibiu também no dia 22 a produção "Marighella", e chega à UFRJ amanhã (27), com o filme “Eu me lembro”, de Luiz Fernando Lobo, para continuar o trabalho bem-sucedido iniciado em 2012. 

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