Por Lucas Lacerda
A mãe, Charo (Natalia Oreiro), o protagonista Juan/Ernesto (Teo Gutiérrez Moreno) e o pai, Horacio (Cesar Troncoso) |
O cinema sobre as Ditaduras sempre remete a corredores
frios, morte e torturas desumanas. Remete também, de acordo com “Infância
Clandestina”, a uma vida de troca de identidade, exclusão do mundo social, e toda
uma experiência atravessada pelo medo, pela insegurança e a tensão presentes
nesse período.
Clarice, 25, ajuda a organizar a Mostra no Rio |
No último dia 22, o filme chegou à UFRRJ em parceria do
Grupo Imago e da segunda edição da Mostra Cinema Pela Verdade, representada
pela aluna de Ciências Socias da UFRJ Clarice Green:
- Acho muito legal
o apoio pra vir até aqui, porque existe a vontade de levar a Mostra para o
interior, mas é difícil. – afirmou Clarice, que também estuda Cinema na Escola
de Cinema Darci Ribeiro.
A produção de 2012, de Benjamin Ávila, que conta uma
versão romanceada de sua vivência durante o período 1976-79, reproduz esse
cenário e as experiências, e chegou próximo de 200 mil espectadores na
Argentina, e cerca de 30 mil no Brasil.
A Mostra Cinema Pela Verdade passou, em 2012, por 90
Universidades, e realizou 189 debates. Na Rural, os convidados para o bate papo
foram Marcelo Müller, escritor do roteiro junto a Benjamin Ávila, e a
professora da casa Lucília Lino
Augusto de Paula, do DTPE/IE, pesquisadora do Movimento Estudantil
na UFRRJ.
Após a exibição, o debate passou pelas violentas ações
dos órgãos repressores na Argentina, do extermínio de grupos de resistência
armada como os montoneros, do qual os
pais do protagonista faziam parte. Müller apontou a soma de aproximadamente 500 crianças sequestradas
durante a ditadura, e as cerca de 400 que ainda são procuradas.
Um ponto que despertou interesse foi o uso da animação
para retratar as partes mais violentas da história, como a troca de tiros no
início do filme, e o sequestro do menino Juan ao final:
- A comunicação emocional com o público sempre
foi a intenção, aciona a memória emocional das pessoas. – declarou Müller, que
destacou também a dificuldade de avaliar as questões da época com olhos atuais,
e de contar a história através do filme sem julgar os personagens.
A profª. Lucília Augusto e o escritor Marcelo Müller: a repressão e o cinema |
Lucília Augusto trouxe a interpretação da
“individualidade e do coletivo”, sempre presentes na trama. De acordo com a
professora, Juan é uma criança de espontaneidade e afetividade sempre tolhidas pela
dupla identidade e pela família vivendo em função de um ideal, no meio de uma
guerra.
Müller, também esclareceu os presentes sobre a introdução
do carismático personagem “tio Beto”, que não fez parte da vida do diretor Benjamin
Ávila:
- Tio Beto nunca
existiu, a convivência doméstica era pesada, complicada. E por querermos contar uma história de pessoas vivendo, se relacionando, era necessário ter um
personagem para dar leveza. Tio Beto é o mentor que dá direcionamento ao herói.
– contou o escritor, que também admitiu dificuldade no mercado nacional para
espaço de filmes dessa natureza, que estão num meio-termo entre o artístico e o
comercial.
A mestranda Maria Silva, presente na exibição e na
conversa, expôs suas impressões sobre o filme, onde mencionou a questão de
procurar pessoas ou saber do seu destino. De acordo com Maria, “trabalhar os
rastros da memória é procurar os pedacinhos que a gente vai ter que catar.”
A Mostra Cinema Pela Verdade exibiu também no dia 22 a produção "Marighella", e chega à UFRJ amanhã (27),
com o filme “Eu me lembro”, de Luiz Fernando Lobo, para continuar o trabalho
bem-sucedido iniciado em 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário