“Feliz aquele que transfere o que sabe
e aprende o que ensina”.
Por Eriknatan Clementino Medeiros3 e Aline Freitas2
Os estudantes do Curso de História da
UFRRJ, Campus de Seropédica representaram a Universidade no I Seminário de
Ensino de História nas Redes de Formação: impactos nas escolas públicas do Rio
de Janeiro, que aconteceu do dia 4 a 6 de julho na Universidade Federal do Rio
de Janeiro - UFRJ, Campus Praia Vermelha.
Participaram do evento Professores
pesquisadores de ensino de História, graduandos envolvidos em projetos de
pesquisa e extensão, pós-graduandos, professores do Ensino Superior, graduandos
e os Professores regentes da Educação Básica. Acreditamos que os últimos foram
os que mais se beneficiaram com o momento. Partimos desse espaço com algumas
considerações que julgamos pertinentes, no sentido proposto pela sábia Cora
Coralina.
Observamos cada vez mais a necessidade
da busca pelos educadores, no proposto pelo próprio Celso Antunes, de “outras
estratégias de ensino”, para inovarem as suas aulas, e para que não sejam
meramente expositivas. Nesse sentido, contribuindo para uma aprendizagem
significativa. Todavia, é ainda muito notável no ambiente escolar, os professores
serem indagados pelos educandos com a conhecida questão na ponta da língua:
Porque eu tenho que aprender História? De fato a pergunta não é simples, e
movimenta debates calorosos nos meios acadêmicos.
O que se observa é um discurso
reprodutivo, que começa muitas das vezes ainda no início da trajetória
educacional chegando até o nível superior. Estes questionamentos não ocorrem
somente no campo da história, não sendo ela a única a ter sua fundamental
importância contestada. Isto ocorre em quase todos os campos do saber. O que
deixa claro que, ainda hoje, é muito presente o ranço do descrédito e a pouca
importância atribuída à educação, estigmas que foram surgindo devido à própria
história da educação.
No entanto, muitos fatos no âmbito
educacional, contribuem para a perpetuação desta concepção, entre eles, a falta
de atividades que atribuam um significado real ao aprendizado proposto, com
atividades práticas e contextualizada. Falta de incentivo ao prazer de
aprender, de modo que os estudantes se sintam capazes, também uma
conscientização de que o aprendizado nem sempre é prazeroso, mas necessário, e
que assim também será na vida. Ainda que seus esforços não resultem no
esperado, será sempre melhor do que não se esforçarem.
Contudo, nesse ensaio não pretendemos
nos aprofundar em nenhuma questão, e sim, propor algumas reflexões explicitadas
a partir da participação no Seminário em questão, no que concernem os desafios
de ensinar para um público que em seu cotidiano está cercado de tecnologias,
atividades interessantes e muitas informações, sua maior parte via internet.
Dessa forma, julgando como inútil qualquer conhecimento que demande dedicação,
como os construídos na Escola.
Para os profissionais da educação,
fica cada vez mais difícil garantir que os estudantes assimilem os conteúdos
trabalhados. O bombardeio de informações que lhes chegam e os diferentes meios
pelos quais têm acesso, facilitam para que os educandos sintam uma constante
necessidade de informações rápidas e novas, ainda que na maioria das vezes seus
conteúdos sejam pouco úteis ou mesmo duvidosos, não sendo muitas das vezes
questionados ou analisados criticamente.
Nesse sentido, está ocorrendo na
aprendizagem contemporânea, o fenômeno que alguns já denominam por analogia,
“informações fast-food”, onde se prioriza mais a quantidade e a velocidade, do
que a qualidade em si, gerando uma viciação mental, não permitindo que o aluno
prenda a sua atenção em um determinado assunto por um tempo significativo, o
que só tende a dificultar a sua real aprendizagem do conteúdo. Muitos
estudantes até possuem conhecimento em variados assuntos, entretanto, de forma
sucinta, apenas por já terem ouvido falar, ou lido alguma coisa, é apenas um
conhecimento superficial.
Como prática de dar conta dessa gama
de informações, alguns educadores já procuram utilizar as tecnologias como
táticas, visto que, a maior parte dos estudantes, independente de suas faixas
etárias, faz uso frequente delas em seu cotidiano. Importante ressaltar que o
uso das tecnologias se enquadra com um recurso a mais para as aulas, não
devendo jamais a falta de seu acesso, ser desculpa para uma aula monótona e
totalmente expositiva. Todo professor que tenha consciência do seu papel,
segurança e conhecimento daquilo que ensina, procura meios de fazer sua aula
dinâmica, agradável, atrativa e o principal, consegue contextualizar o conteúdo
proposto ou pelo menos facilitar a compreensão deste, adequando suas linguagens
ao nível do educando.
O bom professor compreende que não há
prática sem teoria, assim como também não existe a teoria sem a prática. É
fundamental que em seu planejamento enfatize a interação entre as disciplinas
do currículo, proporcionando o desenvolvimento integral desses indivíduos,
conscientes de seu papel social, crítico, pensantes, experimentando e
construindo o conhecimento. O mais sensato a se fazer é dissecar as
informações, e ensinar de forma abrangente e dinâmica tudo aquilo que se é
necessário, despertando acima de tudo, o gosto do educando pela eterna busca ao
conhecimento, e não apenas às informações. E fundamentalmente, o professor
precisa ter uma postura coerente com aquilo que ele esteja ensinando, ou
dizendo ser importante aprender, precisa acreditar verdadeiramente, ou do
contrário os alunos entenderão tudo como apenas um discurso vazio.
O ensino de história tem tudo para
permitir uma aula dinâmica, interativa e contextualizada. Não faltam espaços e
construções que facilitem tal compreensão, afinal, ela está presente em quase
todos os lugares, basta ter uma olhar mais atencioso. É preciso que se faça uma
ponte entre o passado e o presente, coisa que o professor, mais experiente,
pode ensinar a fazer, de modo que os alunos sintam cada vez mais vontade de
caminharem por ela. Não se pode trabalhar história se restringindo ao campo da
sala de aula, com informações estanques e desconexas. Lembremo-nos do fenômeno
denunciado ainda no século passado pelo Historiador Eric Hobsbawm como
“Presente contínuo, sem nenhuma ligação com o passado”.
A
destruição do passado - ou melhor, dos vínculos entre a nossa experiência e a
das gerações passadas - é um dos fenômenos mais tristes do século XX. Quase
todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer
relação com o passado da época em que vivem.
Entendemos que é por meio da
reconstrução das antigas sociedades que atribuímos significados para o momento
que vivemos. Nesse sentido, Hobsbawm coloca que os historiadores, cujo ofício,
é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se hoje mais importantes do que nunca.
E é cada vez mais necessário que os jovens percebam a função da História,
constituindo o entendimento do “novo”.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais e outros
documentos referentes à Educação Brasileira, destacam o professor como agente
transformador. Para tanto, ele deve traçar seus objetivos valorizando as
múltiplas linguagens que esses estudantes oferecem a partir do seu meio social.
Na prática do ensino de História, é preciso que o professor “olhe atento sobre
a vida e o tempo, propiciando que se revelem as inúmeras linguagens que
acompanham o cotidiano” dos seus educandos.
A escola precisa ser verdadeiramente
democrática, não apenas nos conceitos teóricos, e sim efetivamente em sua
prática. Somente assim, ela assumirá um papel transformador, mas com a
consciência de que educação transpõe o nível escolar. Caberá a cada um, dentro
de seu papel social, procurar oferecer o seu melhor, cumprindo com suas
respectivas responsabilidades. Nessa perspectiva, só quando houver a
harmonização do trabalho entre escola, família e sociedade, que efetivamente
serão colhidos os tão almejados frutos da educação.
NOTAS
1 - Para a confecção desse texto,
utilizamos trechos do trabalho desenvolvido na Disciplina Política e
Organização da Educação, ministrada pelo Prof. Allan Rocha Damasceno no
Instituto de Educação da UFRRJ (2012 - 2).
2 - Professor dos anos iniciais da
Educação de Jovens e Adultos, na Secretaria Municipal de Educação de Valença -
RJ. Graduando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro -
UFRRJ, Campus Seropédica. Integrante do Núcleo de Pesquisa em Cultura,
Identidade e Subjetividade - CULTIS da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro - UFRRJ.
3 - Graduanda em Pedagogia pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Campus Seropédica. Monitora da
Disciplina Psicologia da Educação: Aspectos Afetivos no Instituto de Educação
da UFRRJ.
4 - Trecho do Poema Exaltação de
Aninha (O Professor) de Cora Coralina. In: Vintém de cobre: meias confissões de
Aninha. 9ª ed., São Paulo: Global, 2007.
5 - ANTUNES, Celso. Como transformar
informações em conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 15.
6 - HOBSBAWM, Eric. A era dos
extremos. São Paulo: Companhia da Letras, 1997, p. 13.
7 - ANTUNES, Celso. Como transformar
informações em conhecimento... op. cit. p. 21.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Celso. Como transformar
informações em conhecimento. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2001.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - Lei nº 9394/96 - Brasília:
Imprensa Oficial, 1996.
CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias
confissões de Aninha. 9ª edição, São Paulo: Global, 2007.
HOBSBAWM, Eric. J. A era dos extremos.
São Paulo: Companhia da Letras, 1997.