segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um epílogo do I Seminário de Ensino de História nas Redes de Formação da UFRJ.

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

Por Eriknatan Clementino Medeiros3 e Aline Freitas2

Os estudantes do Curso de História da UFRRJ, Campus de Seropédica representaram a Universidade no I Seminário de Ensino de História nas Redes de Formação: impactos nas escolas públicas do Rio de Janeiro, que aconteceu do dia 4 a 6 de julho na Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, Campus Praia Vermelha.

Participaram do evento Professores pesquisadores de ensino de História, graduandos envolvidos em projetos de pesquisa e extensão, pós-graduandos, professores do Ensino Superior, graduandos e os Professores regentes da Educação Básica. Acreditamos que os últimos foram os que mais se beneficiaram com o momento. Partimos desse espaço com algumas considerações que julgamos pertinentes, no sentido proposto pela sábia Cora Coralina.

Observamos cada vez mais a necessidade da busca pelos educadores, no proposto pelo próprio Celso Antunes, de “outras estratégias de ensino”, para inovarem as suas aulas, e para que não sejam meramente expositivas. Nesse sentido, contribuindo para uma aprendizagem significativa. Todavia, é ainda muito notável no ambiente escolar, os professores serem indagados pelos educandos com a conhecida questão na ponta da língua: Porque eu tenho que aprender História? De fato a pergunta não é simples, e movimenta debates calorosos nos meios acadêmicos.

O que se observa é um discurso reprodutivo, que começa muitas das vezes ainda no início da trajetória educacional chegando até o nível superior. Estes questionamentos não ocorrem somente no campo da história, não sendo ela a única a ter sua fundamental importância contestada. Isto ocorre em quase todos os campos do saber. O que deixa claro que, ainda hoje, é muito presente o ranço do descrédito e a pouca importância atribuída à educação, estigmas que foram surgindo devido à própria história da educação.

No entanto, muitos fatos no âmbito educacional, contribuem para a perpetuação desta concepção, entre eles, a falta de atividades que atribuam um significado real ao aprendizado proposto, com atividades práticas e contextualizada. Falta de incentivo ao prazer de aprender, de modo que os estudantes se sintam capazes, também uma conscientização de que o aprendizado nem sempre é prazeroso, mas necessário, e que assim também será na vida. Ainda que seus esforços não resultem no esperado, será sempre melhor do que não se esforçarem.

Contudo, nesse ensaio não pretendemos nos aprofundar em nenhuma questão, e sim, propor algumas reflexões explicitadas a partir da participação no Seminário em questão, no que concernem os desafios de ensinar para um público que em seu cotidiano está cercado de tecnologias, atividades interessantes e muitas informações, sua maior parte via internet. Dessa forma, julgando como inútil qualquer conhecimento que demande dedicação, como os construídos na Escola.
Para os profissionais da educação, fica cada vez mais difícil garantir que os estudantes assimilem os conteúdos trabalhados. O bombardeio de informações que lhes chegam e os diferentes meios pelos quais têm acesso, facilitam para que os educandos sintam uma constante necessidade de informações rápidas e novas, ainda que na maioria das vezes seus conteúdos sejam pouco úteis ou mesmo duvidosos, não sendo muitas das vezes questionados ou analisados criticamente.
Nesse sentido, está ocorrendo na aprendizagem contemporânea, o fenômeno que alguns já denominam por analogia, “informações fast-food”, onde se prioriza mais a quantidade e a velocidade, do que a qualidade em si, gerando uma viciação mental, não permitindo que o aluno prenda a sua atenção em um determinado assunto por um tempo significativo, o que só tende a dificultar a sua real aprendizagem do conteúdo. Muitos estudantes até possuem conhecimento em variados assuntos, entretanto, de forma sucinta, apenas por já terem ouvido falar, ou lido alguma coisa, é apenas um conhecimento superficial.

Como prática de dar conta dessa gama de informações, alguns educadores já procuram utilizar as tecnologias como táticas, visto que, a maior parte dos estudantes, independente de suas faixas etárias, faz uso frequente delas em seu cotidiano. Importante ressaltar que o uso das tecnologias se enquadra com um recurso a mais para as aulas, não devendo jamais a falta de seu acesso, ser desculpa para uma aula monótona e totalmente expositiva. Todo professor que tenha consciência do seu papel, segurança e conhecimento daquilo que ensina, procura meios de fazer sua aula dinâmica, agradável, atrativa e o principal, consegue contextualizar o conteúdo proposto ou pelo menos facilitar a compreensão deste, adequando suas linguagens ao nível do educando.

O bom professor compreende que não há prática sem teoria, assim como também não existe a teoria sem a prática. É fundamental que em seu planejamento enfatize a interação entre as disciplinas do currículo, proporcionando o desenvolvimento integral desses indivíduos, conscientes de seu papel social, crítico, pensantes, experimentando e construindo o conhecimento. O mais sensato a se fazer é dissecar as informações, e ensinar de forma abrangente e dinâmica tudo aquilo que se é necessário, despertando acima de tudo, o gosto do educando pela eterna busca ao conhecimento, e não apenas às informações. E fundamentalmente, o professor precisa ter uma postura coerente com aquilo que ele esteja ensinando, ou dizendo ser importante aprender, precisa acreditar verdadeiramente, ou do contrário os alunos entenderão tudo como apenas um discurso vazio.

O ensino de história tem tudo para permitir uma aula dinâmica, interativa e contextualizada. Não faltam espaços e construções que facilitem tal compreensão, afinal, ela está presente em quase todos os lugares, basta ter uma olhar mais atencioso. É preciso que se faça uma ponte entre o passado e o presente, coisa que o professor, mais experiente, pode ensinar a fazer, de modo que os alunos sintam cada vez mais vontade de caminharem por ela. Não se pode trabalhar história se restringindo ao campo da sala de aula, com informações estanques e desconexas. Lembremo-nos do fenômeno denunciado ainda no século passado pelo Historiador Eric Hobsbawm como “Presente contínuo, sem nenhuma ligação com o passado”.

A destruição do passado - ou melhor, dos vínculos entre a nossa experiência e a das gerações passadas - é um dos fenômenos mais tristes do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação com o passado da época em que vivem.

Entendemos que é por meio da reconstrução das antigas sociedades que atribuímos significados para o momento que vivemos. Nesse sentido, Hobsbawm coloca que os historiadores, cujo ofício, é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se hoje mais importantes do que nunca. E é cada vez mais necessário que os jovens percebam a função da História, constituindo o entendimento do “novo”.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais e outros documentos referentes à Educação Brasileira, destacam o professor como agente transformador. Para tanto, ele deve traçar seus objetivos valorizando as múltiplas linguagens que esses estudantes oferecem a partir do seu meio social. Na prática do ensino de História, é preciso que o professor “olhe atento sobre a vida e o tempo, propiciando que se revelem as inúmeras linguagens que acompanham o cotidiano” dos seus educandos.

A escola precisa ser verdadeiramente democrática, não apenas nos conceitos teóricos, e sim efetivamente em sua prática. Somente assim, ela assumirá um papel transformador, mas com a consciência de que educação transpõe o nível escolar. Caberá a cada um, dentro de seu papel social, procurar oferecer o seu melhor, cumprindo com suas respectivas responsabilidades. Nessa perspectiva, só quando houver a harmonização do trabalho entre escola, família e sociedade, que efetivamente serão colhidos os tão almejados frutos da educação.

NOTAS

1 - Para a confecção desse texto, utilizamos trechos do trabalho desenvolvido na Disciplina Política e Organização da Educação, ministrada pelo Prof. Allan Rocha Damasceno no Instituto de Educação da UFRRJ (2012 - 2).
2 - Professor dos anos iniciais da Educação de Jovens e Adultos, na Secretaria Municipal de Educação de Valença - RJ. Graduando em História pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Campus Seropédica. Integrante do Núcleo de Pesquisa em Cultura, Identidade e Subjetividade - CULTIS da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ.
3 - Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, Campus Seropédica. Monitora da Disciplina Psicologia da Educação: Aspectos Afetivos no Instituto de Educação da UFRRJ.
4 - Trecho do Poema Exaltação de Aninha (O Professor) de Cora Coralina. In: Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 9ª ed., São Paulo: Global, 2007.
5 - ANTUNES, Celso. Como transformar informações em conhecimento. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 15.
6 - HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Companhia da Letras, 1997, p. 13.
7 - ANTUNES, Celso. Como transformar informações em conhecimento... op. cit. p. 21.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Celso. Como transformar informações em conhecimento. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2001.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9394/96 - Brasília:
Imprensa Oficial, 1996.
CORALINA, Cora. Vintém de cobre: meias confissões de Aninha. 9ª edição, São Paulo: Global, 2007.
HOBSBAWM, Eric. J. A era dos extremos. São Paulo: Companhia da Letras, 1997.

Um comentário:

  1. Muito bom o texto! É uma pena que grande parte dos nossos professores não se preocupem em tornar suas aulas mais agradáveis, trazendo-as para o cotidiano, contextualizando, mostrando a aplicabilidade do conteúdo na vida do futuro profissional.

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